segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Seu Sami


Primeiramente tenho a dizer que a exposição muito me encantou por um ponto e muito me decepcionou por outro. Enquanto achei bárbara a exposição situada na Galeria Alberto da Veiga Guignard, onde a emoção do artista foi passada ao publico pelas sensação de vazio, amplitude e do jogo de espelhos, a dos outros salões, achei fraca, sem emoção e com um imenso desperdício de papel! É, desperdício! (nesse caso de algodão que é a materia prima desse tipo de papel) Achei que a própria forma como os "livros" foram colocados lembravam uma casca de árvore deformada. As placas de bronze também são interessantes, mas não impressionam, e as "telas" brancas lembram muito um certo tipo de grade, que segue exatamente o mesmo estilo. Tive a impressão de ler SOS nessas "telas" de grade, seria um SOS da arte? Do papel? Ou do publico que não tem contato com a emoção que o artista diz querer passar?


Segue abaixo texto retirado do site do Museu Vale

"A arte de Hilal

Aos 12 anos, Hilal Sami Hilal, perdia o pai. Essa ausência, que imprimiu em sua existência muito precocemente a noção de vazio, resultou na busca de um novo norte, de um novo caminho, e foi aos poucos sendo substituída pela arte. “Pela arte, enquanto amparo”, diz Hilal, para quem a arte viabilizou a construção do sujeito. Nesta exposição, cujo título é “Seu Sami”, ele presta homenagem ao pai, fala das suas memórias, e estabelece um paralelo entre luz e sombra, o vazio e a matéria.
A obra de Hilal, construída ao longo de 30 anos, “é uma celebração do fazer”, diz o curador da mostra. E caracteriza-se pela leveza das formas em todos os aspectos: nos rendilhados, nascidos do papel elaborado pelo próprio artista a partir de trapos de tecidos, e também nos trabalhos no metal, onde dele retira o peso, transformando-o numa espécie de brocado. Paulo Herkenhoff destaca que a obra de Hilal tem que ser vista como uma poética de construção singular de um discurso de articulação de sentidos específicos. “O artista é o homo faber do símbolo poético. O seu trabalho está impregnado de referências da história da arte, memória psíquica, ação da libido, aspectos teóricos da psicanálise (com especial interesse no pensamento de Lacan), e valores espirituais cristão e islâmico, já que a família Hilal é de origem síria”.
“Seu Sami” irá ocupar o museu com obras criadas especialmente para o espaço. Hilal está dedicado ao projeto a cerca de um ano e pela primeira vez não trabalha sozinho: conta com uma equipe de quatro adolescentes que fazem parte do Programa Aprendiz do MVRD, que capacita jovens em ofícios relativos à montagem das exposições. Para o artista, a experiência é uma oportunidade rara e muito gratificante. “No meu processo de trabalho, o individual sempre foi pleno e dominante (e ainda acho que continuará sendo). Mas sem a participação desta equipe esta mostra não seria possível. O trabalho que o Museu desenvolve com a comunidade é para mim um dos pontos primordiais dessa exposição”.
A mostra
Os nomes da família, dos amigos e dos amigos da família compõem a estrutura de alguns trabalhos. Como o dos livros, de cobre e papel, que estarão na primeira sala do pavilhão de exposições, sobre uma superfície de madeira, lembrando uma biblioteca. Os livros são construídos a partir de placas com nomes, empilhadas como páginas. Todas iguais, intensificando os vazios, aprofundando-se. Nas paredes desta mesma sala, obras de dimensões monumentais, como o Globo, elaborado a partir de moldes de silicone, que também lembram grandes páginas. Mais de cem, penduradas no espaço, uma de frente para a outra, criando perspectiva numa profundidade de 4 metros.
A grande instalação da mostra é a obra título, “Seu Sami”. Um registro simbólico da ausência do pai vivida por Hilal. “Nesta obra, nomeio o meu vazio”, diz o artista. “Seu Sami é o pai que não tive e que a arte realizou em mim”, completa. A instalação é um espaço infinito criado por Hilal, uma sequência de luz e sombras que ocupa toda a extensão (de 60 metros) da grande sala de exposições. Os pólos são a Sala do Amor (rendilhados florais, românticos, vivos!) e Sala da Dor (ornamentos de linhas tortuosas que lembram arame farpado). Entre os dois momentos, uma zona de absoluta escuridão. No confronto dos extremos, espelhos, que reproduzem imagens de beleza e sofrimento, criando uma profundidade infinita. E ambígua. “Falo da presença e da ausência infinitamente. Como o espelho. A ausência promove a presença da minha criação”, revela Hilal.
A mostra se completa com Sherazade, título que corresponde ao nome da narradora de As Mil e Uma Noites. A obra tem a forma de um grande livro ramificado. Capas de livros e corpo de livros (maiores do que as capas) se emendam em outras capas e corpos de livros, infinitamente, onde cada capa busca um corpo e cada corpo encontra sua capa, e mais um outro corpo e uma nova capa... Que se relacionam, se multiplicam, como uma história sem fim. “O espectador se confronta como um labirinto de Borges, mas sobretudo com a noção de negociação com o tempo inexorável”, explica Henkenhoff.
O artista
Hilal Sami Hilal, descendente de família síria, nasceu em Vitória – ES, em 1952. O artista, que fundou a cadeira de Estudo do Papel na Faculdade Federal do Espírito Santo, constrói sua própria matéria prima, seu material de trabalho, e desde sempre confeccionou o papel para a sua obra e trabalha com a memória afetiva. Para fazer o papel, Hilal utiliza basicamente a fibra de algodão, vinda de trapos, roupas velhas de família. O artista conta que transformava em papel as roupas que ganhava de presente!"

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